Visitei a Cidade do Rio de Janeiro... sim, visitei. Abandonei esta violenta cidade no mês de abril do corrente ano. Apesar de lugares lindos, não é maravilhosa. Estou em uma cidade muito mais tranquila, apesar de ainda estar no Estado do Rio de Janeiro. Detalharei esta aventura futuramente, contando tudo o que descobri sobre a área de educação na localidade.
Bem, minha visita teve como
principal intenção comprar remédio de pressão ( não disponível em minha nova
cidade ), visitar meu filho e, logicamente, rever minhas amigas; poucas, únicas
e sempre presentes em minha vida, fato que a distância não atrapalha.
Em especial revi uma amiga de
magistério que há muito tempo não encontrava. Impossível vê-la sem falar de
escola, educação, projetos, amores. Sim, nós, verdadeiros profissionais da
educação, continuamos acreditando em transformação e respiramos sala de aula,
sonhos, dedicação.
Ela me fez retornar ao
tempo! Em turma, ela constantemente me dizia e, confesso que me enchia de orgulho:
_Quando crescer quero ser
igual a você!
Nossa diferença de idade é
pequena, mas ela sempre falou que minha história de vida levou-me a um
amadurecimento precoce e que um dia queria ter a dedicação e o envolvimento que
eu tinha com todas aquelas crianças e adolescentes. E imaginem... ela repetiu
exatamente esta frase e perguntou se eu lembrava que ela me falava isto!
Apaixonou-se, após algum
tempo na função, pelo prazer em oferecer o melhor de si por eles e realizar-se profissionalmente
por esta razão. Encantou-se com o trabalho com projetos pedagógicos
multidisciplinares, empenhou-se em estudá-los, planejá-los e ainda mais em
executá-los. Passou a planejar comigo, em busca incansável na organização dos
mesmos, respeitando a diversidade de alunos. Nossas mesas ficavam cheias de
livros... Multieducação, Parâmetros Curriculares Nacionais, Ofício de
Professor, Revista Nova Escola e tantos outros. Envolveu-se e conseguiu. Meus
alunos eram passados para ela quando eu não continuava com a turma e nossa
troca era constante.
Em uma das feiras culturais
que aconteciam anualmente na escola, fizemos exposição de nossos trabalhos com
as turmas. Projeto único, com séries diferentes e variadas atividades. Um lado
da quadra ( local escolhido para exposição ) foi pequeno para nossas
realizações! E, logicamente, com apresentação final de uma dança!!! A
felicidade contagiava o coração de nossas crianças e adolescentes que amavam
participar de tudo!!!
Incrível e também
relembramos que os alunos ficavam 9 horas em nossa companhia... não enjoavam de
nossa voz, do nosso jeito, de nossas exigências, cobranças e de nosso amor! Nos
vestíamos de festa para recebê-los porque eles mereciam o melhor e assim
sentiam-se! Eles foram e são os melhores... aprenderam a valorizar-se, a respeitar
para ser respeitado...cumprir deveres e exigir direitos... simplesmente
maravilhosos!
Tenho orgulho por ter
partilhado com alguém que percebeu a necessidade de mudança para fazer a
diferença dentro de uma Unidade Escolar. Comprometeu-se inteiramente, passando
a ter uma visão bem mais ampla, inovando e valorizando alunos, transformando-os
em indivíduos críticos e participantes.
Durante meu período
licenciada ela dedicou-se a estudos
direcionados à alfabetização com um grupo que, voluntariamente, reunia-se fins
de semana para aperfeiçoamento e troca.
Hoje, como eu, ela está fora
da turma. Com mais sorte, está readaptada e continua com o contato na área
educacional. Eu, infelizmente, estou aposentada por invalidez e sinto-me um
nada ante a Secretaria Municipal de Educação que me tem como mera estatística
de aposentados inválidos, sendo excluída até mesmo da escola que me confiava
sempre turmas mais difíceis.
Ela, vítima de uma doença
que a levou a várias cirurgias, que exige exames constantes. Eu, vítima da
violência urbana, do desejo de proteger, de querer ser sempre forte; acometida
de depressão com muita ansiedade.
O que ainda temos em comum?
O amor ao trabalho educacional, ao nosso trabalho. Ela foi forte, pediu e implorou
aos médicos da perícia para deixá-la retornar readaptada. Eu fui mais fraca e
deixei que concluíssem, após junta médica não comunicada e pergunta de uma das
peritas:
_E se te mandarem para o
Alemão?
Simplesmente respondi:
_Eu não vou.
Pois é, um risco que o
professor dedicado corre.
Estou aposentada por
invalidez, ganhando salário proporcional aos anos trabalhados porque até o
presente momento não consideraram que entrei na PCRJ em 1986, após exames
médicos diversos que me tornaram apta.
Não consideraram função, localização de
trabalho e somatório de fatos que me levaram a adoecer, apesar da pergunta da
perita que deixa bem claro a ligação da doença com o trabalho e localização do
mesmo.
Em uma matrícula eu já tinha
tempo suficiente para aposentadoria ( 25 anos ), mas não tinha a idade mínima
exigida.
Hoje sou um joguete e um incômodo para o Instituto Previ rio, para a
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. É como se, de repente, você se
transformasse em um peixe fora d´água. Perde-se o valor e a dignidade com a dura
redução do piso salarial; consequentemente, dos triênios; até mesmo o bônus
cultura... para que aposentado precisa dele?
A constante pergunta que nos
fazemos é:
_De que valeu a pena sua
vida profissional? Você, sempre independente e lutadora, agora dependente de
terceiros para sobreviver... na verdade, o que valeu???
É isto... encontrar-me com
ela me trouxe felicidade, ela nunca perde aquele sorriso de criança, mesmo com
todas as dificuldades e dúvidas que a acompanham.
A única coisa que desejo e
falo para ela agora, apesar de ter plena certeza de que fizemos a diferença na
área educacional, é:
_ Não, nunca seja como eu
fui.
Perdi muito do meu mundo
quando me desvalorizaram quanto profissional. Foram 25 anos de minha vida,
sendo que 20 anos, dentro de uma escola por 9 horas. Foram noites de sono e
muitos fins de semana dedicados ao estudo, reuniões, seleção de material. Total
envolvimento transformando sempre o ambiente de sala de aula para que a
aprendizagem fosse construída de forma prazerosa e que alunos fossem sempre
especiais. Eu gostaria de falar que tudo valeu a pena... mas não valeu.
O mínimo de reconhecimento
que se espera é a preservação de dignidade através de proventos.
Lamentavelmente, quando você mais precisa, já não serve à nossa atual
sociedade.
Meu consolo? Recebi pedido
para parar de escrever neste meu espaço, porque seria perseguida... mas não
pretendo calar. Ensinei durante anos a alunos que devem acreditar e transformar
a dura realidade... agora é a minha vez. Enquanto puder estarei lutando para
que a justiça seja feita, independente de quem vai ler ou se será lido. Muitos
fatos ainda estarão aqui registrados. Mesmo que seja apenas desabafo, já valeu
muito!
Fico indignada porque
conheço a realidade de escolas e de muitos profissionais. Reconheço que o dom
da palavra leva péssimos profissionais a cargos de confiança. Que a tal da
meritocracia, se vai ser utilizada como avaliação, precisa ser revista para que
haja justiça. Ela não valoriza o professor, premia também a incompetência e
abre problemas mais sérios mascarando uma realidade.
É isto, pronto, falei!!!
Você é muito mais, amiga. É
vitoriosa!
Continuo aqui, mesmo distante,
torcendo por seu sucesso independente da função que ocupe dentro da
Unidade Escolar. Você tem a consciência que o servidor público tem como dever
atender satisfatoriamente ao público que assiste e nunca condicionamos nosso
trabalho a prêmios, mas na reivindicação de salário e condições dignas para
exercê-lo.
Você sempre será uma
excelente profissional!
Amei rever você, te amo muiiiiiitooo!!!
"...Uma das tarefas do educador ou educadora progressista, através da análise política, séria e correta, é desvelar as possibilidades, não importam os obstáculos, para a esperança, sem a qual pouco podemos fazer porque dificilmente lutamos e quando lutamos, enquanto desesperançados ou desesperados, a nossa é uma luta suicida, é um corpo-a-corpo puramente vingativo. O que há, porém, de castigo, de pena, de correção, de punição na luta que fazemos movidos pela esperança, pelo fundamento ético-histórico de seu acerto, faz parte da natureza pedagógica do processo político de que a luta é expressão. Não será equitativo que as injustiças, os abusos, as extorsões, os ganhos ilícitos, os tráficos de influência, o uso do cargo para a satisfação de interesses pessoais, que nada disso, por causa de que, com justa ira, lutamos agora no Brasil, não seja corrigido, como não será carreto que todas e todos os que forem julgados culpados não sejam severamente, mas dentro da lei, punidos..."
Pedagogia da Esperança
Paulo Freire
Lindo relato... quem sabe a dor de uma sala de aula, sabe a dor de perdê-la. Amiga... ando tão descrente dos homens, das coisas... tantos sonhos desfeitos, jogados fora, e tão simples de acontecerem. É tão doloroso constatar o que tornou o homem o sentido da política, e nem filosoficamente falando, mas apenas a do Aurélio já me contentaria.
ResponderExcluirO que precisamos é o que o mundo precisa para sobreviver: encher a alma de esperança e de alegria. Parabéns por ser a atitude que faz a diferença no mundo!