segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Professora... palavra e prática!



Visitei a Cidade do Rio de Janeiro... sim, visitei. Abandonei esta violenta cidade no mês de abril do corrente ano. Apesar de lugares lindos, não é maravilhosa. Estou em uma cidade muito mais tranquila, apesar de ainda estar no Estado do Rio de Janeiro. Detalharei esta aventura futuramente, contando tudo o que descobri sobre a área de educação na localidade.



Bem, minha visita teve como principal intenção comprar remédio de pressão ( não disponível em minha nova cidade ), visitar meu filho e, logicamente, rever minhas amigas; poucas, únicas e sempre presentes em minha vida, fato que a distância não atrapalha.
Em especial revi uma amiga de magistério que há muito tempo não encontrava. Impossível vê-la sem falar de escola, educação, projetos, amores. Sim, nós, verdadeiros profissionais da educação, continuamos acreditando em transformação e respiramos sala de aula, sonhos, dedicação. 

Ela me fez retornar ao tempo! Em turma, ela constantemente me dizia e,  confesso que me enchia de orgulho:

_Quando crescer quero ser igual a você!

Nossa diferença de idade é pequena, mas ela sempre falou que minha história de vida levou-me a um amadurecimento precoce e que um dia queria ter a dedicação e o envolvimento que eu tinha com todas aquelas crianças e adolescentes. E imaginem... ela repetiu exatamente esta frase e perguntou se eu lembrava que ela me falava isto!


Apaixonou-se, após algum tempo na função, pelo prazer em oferecer o melhor de si por eles e realizar-se profissionalmente por esta razão. Encantou-se com o trabalho com projetos pedagógicos multidisciplinares, empenhou-se em estudá-los, planejá-los e ainda mais em executá-los. Passou a planejar comigo, em busca incansável na organização dos mesmos, respeitando a diversidade de alunos. Nossas mesas ficavam cheias de livros... Multieducação, Parâmetros Curriculares Nacionais, Ofício de Professor, Revista Nova Escola e tantos outros. Envolveu-se e conseguiu. Meus alunos eram passados para ela quando eu não continuava com a turma e nossa troca era constante.

Em uma das feiras culturais que aconteciam anualmente na escola, fizemos exposição de nossos trabalhos com as turmas. Projeto único, com séries diferentes e variadas atividades. Um lado da quadra ( local escolhido para exposição ) foi pequeno para nossas realizações! E, logicamente, com apresentação final de uma dança!!! A felicidade contagiava o coração de nossas crianças e adolescentes que amavam participar de tudo!!!

Incrível e também relembramos que os alunos ficavam 9 horas em nossa companhia... não enjoavam de nossa voz, do nosso jeito, de nossas exigências, cobranças e de nosso amor! Nos vestíamos de festa para recebê-los porque eles mereciam o melhor e assim sentiam-se! Eles foram e são os melhores... aprenderam a valorizar-se, a respeitar para ser respeitado...cumprir deveres e exigir direitos... simplesmente maravilhosos!

Tenho orgulho por ter partilhado com alguém que percebeu a necessidade de mudança para fazer a diferença dentro de uma Unidade Escolar. Comprometeu-se inteiramente, passando a ter uma visão bem mais ampla, inovando e valorizando alunos, transformando-os em indivíduos críticos e participantes.

Durante meu período licenciada ela dedicou-se  a estudos direcionados à alfabetização com um grupo que, voluntariamente, reunia-se fins de semana para aperfeiçoamento e troca.


Hoje, como eu, ela está fora da turma. Com mais sorte, está readaptada e continua com o contato na área educacional. Eu, infelizmente, estou aposentada por invalidez e sinto-me um nada ante a Secretaria Municipal de Educação que me tem como mera estatística de aposentados inválidos, sendo excluída até mesmo da escola que me confiava sempre turmas mais difíceis.

Ela, vítima de uma doença que a levou a várias cirurgias, que exige exames constantes. Eu, vítima da violência urbana, do desejo de proteger, de querer ser sempre forte; acometida de depressão com muita ansiedade.

O que ainda temos em comum? O amor ao trabalho educacional, ao nosso trabalho. Ela foi forte, pediu e implorou aos médicos da perícia para deixá-la retornar readaptada. Eu fui mais fraca e deixei que concluíssem, após junta médica não comunicada e pergunta de uma das peritas:

_E se te mandarem para o Alemão?

Simplesmente respondi:

_Eu não vou.

Pois é, um risco que o professor dedicado corre. 

Estou aposentada por invalidez, ganhando salário proporcional aos anos trabalhados porque até o presente momento não consideraram que entrei na PCRJ em 1986, após exames médicos diversos que me tornaram apta. 
Não consideraram função, localização de trabalho e somatório de fatos que me levaram a adoecer, apesar da pergunta da perita que deixa bem claro a ligação da doença com o trabalho e localização do mesmo. 

Em uma matrícula eu já tinha tempo suficiente para aposentadoria ( 25 anos ), mas não tinha a idade mínima exigida. 
Hoje sou um joguete e um incômodo para o Instituto Previ rio, para a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. É como se, de repente, você se transformasse em um peixe fora d´água. Perde-se o valor e a dignidade com a dura redução do piso salarial; consequentemente, dos triênios; até mesmo o bônus cultura... para que aposentado precisa dele? 

A constante pergunta que nos fazemos é:

_De que valeu a pena sua vida profissional? Você, sempre independente e lutadora, agora dependente de terceiros para sobreviver... na verdade, o que valeu???


É isto... encontrar-me com ela me trouxe felicidade, ela nunca perde aquele sorriso de criança, mesmo com todas as dificuldades e dúvidas que a acompanham.
A única coisa que desejo e falo para ela agora, apesar de ter plena certeza de que fizemos a diferença na área educacional, é:

_ Não, nunca seja como eu fui.

Perdi muito do meu mundo quando me desvalorizaram quanto profissional. Foram 25 anos de minha vida, sendo que 20 anos, dentro de uma escola por 9 horas. Foram noites de sono e muitos fins de semana dedicados ao estudo, reuniões, seleção de material. Total envolvimento transformando sempre o ambiente de sala de aula para que a aprendizagem fosse construída de forma prazerosa e que alunos fossem sempre especiais. Eu gostaria de falar que tudo valeu a pena... mas não valeu.

O mínimo de reconhecimento que se espera é a preservação de dignidade através de proventos. Lamentavelmente, quando você mais precisa, já não serve à nossa atual sociedade.

Meu consolo? Recebi pedido para parar de escrever neste meu espaço, porque seria perseguida... mas não pretendo calar. Ensinei durante anos a alunos que devem acreditar e transformar a dura realidade... agora é a minha vez. Enquanto puder estarei lutando para que a justiça seja feita, independente de quem vai ler ou se será lido. Muitos fatos ainda estarão aqui registrados. Mesmo que seja apenas desabafo, já valeu muito!

Fico indignada porque conheço a realidade de escolas e de muitos profissionais. Reconheço que o dom da palavra leva péssimos profissionais a cargos de confiança. Que a tal da meritocracia, se vai ser utilizada como avaliação, precisa ser revista para que haja justiça. Ela não valoriza o professor, premia também a incompetência e abre problemas mais sérios mascarando uma realidade.

É isto, pronto, falei!!!

Você é muito mais, amiga. É vitoriosa! 

Continuo aqui, mesmo distante, torcendo por seu sucesso independente da função que ocupe dentro da Unidade Escolar. Você tem a consciência que o servidor público tem como dever atender satisfatoriamente ao público que assiste e nunca condicionamos nosso trabalho a prêmios, mas na reivindicação de salário e condições dignas para exercê-lo. 


Você sempre será uma excelente profissional!

Amei rever você, te amo muiiiiiitooo!!!



"...Uma das tarefas do educador ou educadora progressista, através da análise política, séria e correta, é desvelar as possibilidades, não importam os obstáculos, para a esperança, sem a qual pouco podemos fazer porque dificilmente lutamos e quando lutamos, enquanto desesperançados ou desesperados, a nossa é uma luta suicida, é um corpo-a-corpo puramente vingativo. O que há, porém, de castigo, de pena, de correção, de punição na luta que fazemos movidos pela esperança, pelo fundamento ético-histórico de seu acerto, faz parte da natureza pedagógica do processo político de que a luta é expressão. Não será equitativo que as injustiças, os abusos, as extorsões, os ganhos ilícitos, os tráficos de influência, o uso do cargo para a satisfação de interesses pessoais, que nada disso, por causa de que, com justa ira, lutamos agora no Brasil, não seja corrigido, como não será carreto que todas e todos os que forem julgados culpados não sejam severamente, mas dentro da lei, punidos..."
                                                                                           Pedagogia da Esperança
                                                                                                        Paulo Freire